quarta-feira, 2 de julho de 2014

INTERCÂMBIO REGIONAL NA BLOGOSFERA ! CONHEÇA + SOBRE O CJ DE GOIÁS.

Atuação do CJ-GO

O Coletivo Jovem de Meio Ambiente de Goiás (CJ) foi criado em 2003 durante a I Conferência Nacional Infanto-Juvenil pelo Meio Ambiente – CNIJMA, promovida pelos Ministérios do Meio Ambiente (MMA) e da Educação (MEC). Os jovens dos CJs foram co-responsáveis pela organização de todo processo de conferência no estado de Goiás, seguindo o princípio “jovem educa jovem”, ou seja, jovens contribuindo no engajamento de outros jovens.


O Coletivo Jovem de Goiás é parceiro dos Programas “Juventude e Meio Ambiente” e “Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas - (COM-VIDA)”, promovidos pelo Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental (composto pelos Ministérios do Meio Ambiente e da Educação). O CJ-GO também realiza vários outros projetos e ações no campo da Educação Ambiental , a partir da Educação Popular e Transformadora.

Atuar em Rede faz parte do cotidiano deste coletivo, por isto CJ-GO é articulado na Rede de Juventude pelo Meio Ambiente e Sustentabilidade - Rejuma e também é elo da Rede de Educação e Informação Ambiental de Goiás – REIA-GO , da Rede de Educação Ambiental do Cerrado – Reacerrado e da Rede Brasileira de Educação Ambiental – Rebea , além de compor em diversos espaços de articulação da Educação Ambiental (EA) em Goiás, como a Comissão Organizadora Estadual - COE, responsável pelas Conferências Infanto-Juvenis pelo Meio Ambiente no estado e a Comissão Estadual Interinstitucional de Educação Ambiental de Goiás – CIEA.



O CJ-GO trata a Educação Ambiental como eixo-condutor num processo de transformação de indivíduos e coletivos, potencializando, fomentando e fortalecendo as diversas juventudes do estado, na construção de espaços concretos de articulação e mobilização destes atores sociais em prol de um mundo sustentável. Este trabalho vem se dando principalmente na construção de Coletivos Jovens Locais no interior do Estado.

O que é os CJs?

Os Coletivos Jovens de Meio Ambiente “são grupos informais que reúnem jovens, representantes ou não, de organizações e movimentos de juventude que tem como objetivo envolver-se com a questão ambiental e desenvolver atividades relacionadas à melhoria do meio ambiente e da qualidade de vida. Esses coletivos são como redes locais, para articular pessoas e organizações, circular informação de forma ágil, pensar criticamente o mundo a partir da sustentabilidade, planejar e desenvolver ações e projetos, produzir e disseminar propostas, que apontem para sociedades mais justas e eqüitativas, dentre outras ações e realizações”.

O PAPEL DA FORMAÇÃO

O Coletivo Jovem de Meio Ambiente de Goiás atua sob a ótica de dois princípios norteadores:


  • Jovem educa Jovem: assume-se claramente um papel protagônico dos jovens como sujeitos sociais que atuam e intervêm no momento presente e não num futuro próximo como muitos argumentam. O processo educacional pode e deve ser construído a partir das experiências dos próprios jovens, por meio das “Comunidades de Aprendizagem”, representando um determinado grupo de pessoas, como uma Comunidade que atua aprendendo e que aprende atuando, sem necessariamente depender de agentes externos para tutorar ou conduzir esse processo.
  • Uma geração aprende com a outra: toda a atuação social e a causa à qual ela se remete, encontram-se dentro de um processo histórico. Quem embarca em algum engajamento em prol da vida, do planeta e da humanidade, sempre está de alguma maneira, dando continuidade a um processo acumulado por diversas outras pessoas ao longo de anos. Os novos “tripulantes” trazem sempre novas idéias, conhecimentos e percepções que inovam este processo, enquanto os antigos possuem um acúmulo de experiências que é fundamental, especialmente para que os que chegam não precisem “reinventar a roda”. Sendo assim, afirma-se que as diferentes gerações têm sempre algo a ensinar e a aprender. Este diálogo é um aspecto fundamental para fortalecer os movimentos em prol do meio ambiente e quaisquer outras causas

Ambos os princípios remetem a questão da formação como “carro-chefe” de um processo de aprendizagem compartilhada conduzida para a transformação de indivíduos e coletivos.


As formações, como caminhos da Educação Popular são de grande importância neste processo, que segundo Paulo Freire, a Educação se realiza principalmente no contato do homem com o mundo vivenciado, o qual não é estático, mas dinâmico e em transformação contínua.

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CJ EM PAUTA!

MATÉRIA VEICULADA SOBRE ATIVIDADES DO CJ-PIRI DE GOIÁS http://www.dm.com.br/jornal/#!/view?e=20140605&p=39

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https://secure.avaaz.org/po/brazil_financing_campaign


Para as senadoras, senadores, deputadas e deputados federais:

Nós que assinamos este pedido, assim como milhões de brasileiros, esperamos que o Congresso Nacional leve adiante o desejo da grande maioria de eleitores e vote pela proibição de doações de empresas para campanhas eleitorais. Esta mudança proporcionará eleições mais justas e levará o país ao esperado e necessário caminho da reforma política.
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POR THIRO SILVA

sexta-feira, 7 de março de 2014

O mito da juventude: “O problema de envelhecer é dos velhos”. Entrevista especial com Ted Polhemus

 Entrevistas
04 de Março de 2014

 “Se há um problema que me preocupa sobre a juventude de hoje é que muitos dos jovens parecem viver sob a sombra da minha geração”, afirma o antropólogo.

 A ideia de que nós, os Boomers, criávamos, inventávamos e éramos definidos por nossa ‘juventude’ era tão pervasiva, que nos tornamos a primeira geração que nunca lidou bem com o envelhecimento.” A declaração é do antropólogo Ted Polhemus, em entrevista concedida à IHU On-Line, por e-mail, e faz parte de sua análise em compreender o mito da juventude presente na sociedade. Segundo ele, diante da “inabilidade de crescer e envelhecer, os Boomers tentaram colar em si mesmos uma etiqueta de ‘Jovens para sempre’ que, em certo sentido, nega a juventude àqueles que realmente são jovens”.
Autor do livro BOOM! A Baby Boom Memoir, Polhemus evidencia um processo de “juvenilização”, ou seja, “a transferência da cultura da juventude do domínio estrito dos jovens para a penetração em todos os grupos etários e na cultura em seu sentido mais amplo”.
E explica: “não é que simplesmente um novo mercado foi criado dentro da indústria da moda para lidar com aqueles que eram jovens, mas que jovens modelos e criações apropriadas apenas para corpos jovens empurraram tudo o mais para a indústria da moda”.
O resultado desse processo, adverte, são “adultos-infantis, que vão envelhecendo e que tentam desesperadamente ‘enturmar-se com as crianças’. Minha esperança é de que assim que a minha geração for — finalmente — para aquele grande Festival de Rock no céu, o mundo possa voltar a ter uma percepção mais normal e sensível de que a criatividade e os valores não estão limitados a nenhuma faixa etária”. E dispara: “Hoje — diferentemente dos anos 1950 e 1960 — apenas os velhos estão presos no modelo de juvenilização”.
Ted Polhemus é antropólogo com formação pela Temple University, Filadélfia.
Foto: Urban Fieldnotes
Confira a entrevista.
IHU On-Line - Por que há um mito em torno da juventude?
Ted Polhemus - A partir das décadas de 1950 e 1960, surgiu o mito de que é na juventude que tudo acontece — que todos os avanços criativos vêm dos jovens. Isso derrubou o (também absurdo) mito de que a juventude nada tem a contribuir. O verdadeiro mito (e perigo) é a presunção de que a criatividade é definida pela idade. No fundo, somos mais importantes que nossa idade.
IHU On-Line - Que entendimento os Boomers tinham da juventude? Em que medida a cultura que os envolvia contribuiu para sua compreensão de juventude?
Ted Polhemus – Nós, Baby Boomers, crescemos em um mundo (logo após a Segunda Guerra Mundial) no qual nos diziam constantemente que éramos a "juventude" e, como tal, éramos especiais. A coisa realmente interessante é que toda a criatividade associada ao rock n’roll, ao Swinging London Fashion (expressão comumente utilizada para descrever a efervescência cultural dos anos 1960 na Inglaterra), veio de uma geração ligeiramente mais velha, que havia nascido durante ou mesmo antes da Segunda Guerra. Os primeiros Baby Boomers, como eu (nascido em 1947), não tinham se tornado adolescentes até 1960, enquanto o rock n’roll, os primeiros estilos de rua, o jazz moderno, os poetas beats, haviam todos sido criados por adultos jovens que já não eram mais adolescentes há tempos. Mas a ideia de que nós, os Boomers, criávamos, inventávamos e éramos definidos por nossa "juventude" era tão pervasiva, que nos tornamos a primeira geração que nunca lidou bem com o envelhecimento.
IHU On-Line - O senhor diz que essa geração afetou “como um tsunami” as outras gerações, “distorcendo e metamorfoseando toda a cultura ocidental”. Como e em que medida isso aconteceu? Quais são os reflexos nas gerações futuras?
Ted Polhemus - Uma vez firmada a ideia de que a juventude, e apenas a juventude, tinha a chave mágica para onde tudo acontece, todas as gerações mais velhas passaram a ser vistas como "quadrados", velhos, sem esperança e que não compreendiam nada, e todas as gerações subsequentes (ou, ainda mais importante, os homens e mulheres da publicidade, que desejavam atingi-los) aceitaram sem questionar a presunção de que a vida termina quando sua juventude acaba. Veja a moda, por exemplo: estilistas como Dior, cujo "new look" tomou o mundo de assalto em 1947, criava para mulheres, não garotas (que tradicionalmente seguiriam as tendências estabelecidas por suas mães). De fato, a moda sempre focou nas mulheres e não nas garotas, nos homens e não nos meninos. Mas os estilistas dos anos 1960 (que, ironicamente, não eram eles mesmos adolescentes), como Mary Quant, criaram moda focando nas garotas adolescentes. Hoje existem grandes debates sobre modelos tamanho zero e assim por diante, mas a essência dessa preocupação não são as medidas corporais — é a idade. "Tamanho zero" denota garotas, não mulheres. Pessoalmente, penso que é hora de dissociar a moda e o estilo dessa restrição centrada na idade.

“Tenho 67 anos e não faço a menor ideia sobre os jovens de hoje”

IHU On-Line - A geração atual de jovens ainda sofre os efeitos da geração Boomers? Em que aspectos?
Ted Polhemus - Em sua inabilidade de crescer e envelhecer, os Boomers tentaram colar em si mesmos uma etiqueta de "Jovens para sempre" que, em certo sentido, nega a juventude àqueles que realmente são jovens. Quando isso aconteceu, nos anos 1970 — todos aqueles velhos hippies controlando a indústria da música —, o triunfo final da juventude e da geração que era realmente jovem foi o punk. Mas o problema, hoje, é mais insidioso na medida em que iguala "onde as coisas acontecem" com "juventude" e procura aprisionar aqueles que são jovens numa categoria que é dominada puramente pela idade. De fato, a partir do que eu vejo, a juventude de hoje tem tido a sensibilidade de se apartar desse modelo etário — nos processos de escolhas de estilo, música, ideologia, padrões de consumo, etc., estão os indicadores de identidade realmente significativos, e estes cruzam a passos largos as fronteiras de idade.
IHU On-Line - Existe um processo generalizado de conflito de gerações na sociedade ocidental? Se sim, em que termos?
Ted Polhemus - Havia nos anos 1970, quando os jovens rebeldes do punk miravam os "velhos chatos". O que me impressiona é como o conflito geracional parece ser tão pequeno hoje. E é preciso ser mais do que jovem para responsabilizar a nós, os velhos, por estragar o mundo. Apontou-se estatisticamente que a geração Boomer teve seu próprio modo de fazer as coisas: iam sorrindo aos bancos e destruíam o planeta como ninguém antes deles havia feito.
De fato, se me é permitido dizer, penso que esse tipo de argumento (como tem sido exposto em um grande número de livros campeões de vendas recentemente) recai na mesma absurdidade de centrar-se na idade.
Havia Boomers que dirigiam ônibus e ganhavam salários muito baixos, enquanto outros — como Mark Zuckerberg — que não são Boomers, mas têm feito dinheiro suficiente para manter uma pequena nação funcionando. É absolutamente verdade que foi durante o tempo de vida dos Boomers que a destruição de nosso planeta conheceu uma aceleração. Mas, novamente, não acho que seja justo colar este juízo em cada um dos Baby Boomers. Contudo, a despeito dessas retratações, eu consigo entender facilmente que as gerações mais jovens ressintam o fato de que tantos Boomers estão gozando de rendas confortáveis (para não dizer que estão usufruindo de todas as vantagens da medicina), enquanto muitos de sua geração não conseguem nem arrumar emprego.
IHU On-Line - Em que consiste esse processo de “juvenilização” de que o senhor fala?
Ted Polhemus - Por "juvenilização" eu entendo a transferência da cultura da juventude do domínio estrito dos jovens para a penetração em todos os grupos etários e na cultura em seu sentido mais amplo. Por exemplo, como mencionei antes, não é que simplesmente um novo mercado foi criado dentro da indústria da moda para lidar com aqueles que eram jovens, mas que jovens modelos e criações apropriadas apenas para corpos jovens empurraram tudo o mais para a indústria da moda; veja a música pop.
Nós esquecemos que este não é um fenômeno natural: durante 99,9% da sua história, nossos ancestrais humanos reverenciaram o antigo por sua sabedoria. Hoje, o resultado final são os "adultos-infantis", que vão envelhecendo e que tentam desesperadamente "enturmar-se com as crianças". Minha esperança é que assim que a minha geração for — finalmente — para aquele grande Festival de Rock no céu, o mundo possa voltar a ter uma percepção mais normal e sensível de que a criatividade e os valores não estão limitados a nenhuma faixa etária.
IHU On-Line - É possível romper com esse processo de juvenilização inaugurado com os Boomers? Qual seria o mito social subsequente?
Ted Polhemus - É só parar, como eu digo, de pensar que quem nós somos é definido pela nossa idade. O principal personagem e narrador do romance do final dos anos 1950, Absolute Beginners, teme que ao fazer 19 anos ele ultrapassaria o seu prazo de validade. Que tamanha bobagem — não o romance, que é ótimo, mas a noção de que a certa idade você está passado.

“Nunca antes na história humana o Homo Sapiens teve tal possibilidade de se inventar a si mesmo”

IHU On-Line - Como se dá o processo identitário de jovens hoje em dia, e como este processo se difere do conceito de "juventude" originado a partir dos Boomers?
Ted Polhemus - Isso é exatamente o que alguém tem que começar a perguntar aos jovens. Eu tenho 67 anos e não faço a menor ideia sobre os jovens de hoje. É isso que quero que alguém faça: algum tipo de pesquisa que peça aos jovens para listarem o significado de vários fatores (idade, nacionalidade, classes, marcas, música, estilo, religião, raça, valores, etc.), do mais importante para o menos importante. Aqui vai uma observação que fiz por mim mesmo: na cidade de Hastings, no Reino Unido, onde eu vivo, quando o tempo melhora (se é que melhora), há um monte de crianças, predominantemente novas, andando de patins e skates no calçadão à beira da praia. Eu digo crianças predominantemente novas — e aqui está o meu ponto —, mas noto que, quando chega alguma pessoa mais velha que é boa nos patins ou no skate, ela é bem-vinda e respeitada, ao passo que algumas crianças que não têm habilidade são ignoradas. Compare com a minha geração que dizia "Nunca".
IHU On-Line - Essa autocompreensão de “juvenilização” faz com que os jovens não desenvolvam características próprias da idade adulta? Quais, por exemplo? Como a “juvenilização” afeta a vida adulta?
Ted Polhemus - Eu penso que o outro lado dessa moeda seja mais significativo: como aqueles que não são jovens se esforçam para viver suas vidas como se fossem jovens, quando na verdade não o são. Meu palpite seria de que hoje — diferentemente dos anos 1950 e 1960 — apenas os velhos estão presos no modelo de juvenilização.
Novamente, penso que a juventude de hoje lida bem, enquanto o problema de envelhecer é dos velhos. Se há um problema que me preocupa sobre a juventude de hoje é que muitos desses jovens parecem viver sob a sombra da minha geração. Estudantes dizem para mim: "deve ter sido tão legal viver nos anos 1960". Bem, sim e não. A história tem uma mania de ignorar todas as coisas chatas e repetir em um "loop" infinito aquele clipe de Woodstock no qual a mágica acontecia. Nos anos 1950 quando, na minha visão, as reais revoluções aconteceram, tratava-se ainda mais da questão de uma pequena minoria estatisticamente inundada por uma corrente extremamente tediosa. E não nos esqueçamos de que Jack Kerouack e Neal Cassidy, de On the road, desperdiçaram muito de suas vidas — e estragaram a vida de muitos outros ao seu redor, especialmente das mulheres que passaram por suas vidas. O que é tão significativo e excitante é que o que era a preocupação de uma maioria, hoje tornou-se a preocupação da massa. Muitas pessoas hoje — de todas as idades — se esforçam para criar uma identidade única para si e expressam essa identidade em seus estilos ou palavras, música, ou seja lá o que for. E isso é global.
Lembre-se que lá atrás, nos anos 1950 e 1960, a maioria se conformava muito mais do que se expressava a si mesma, e mesmo os Beats, Hippies, Bikers eram conformes às demandas de suas subculturas. A moda dizia às pessoas o que era in ou out. Nunca antes na história humana o Homo Sapiens teve tal possibilidade de se inventar a si mesmo.

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/528670-o-mito-da-juventude-o-problema-de-envelhecer-e-dos-velhos-entrevista-especial-com-ted-polhemus

Reflexões para o Dia Internacional das Mulheres 08 de Março

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Direitos das mulheres e desenvolvimento

Ao celebrar o Dia Internacional da Mulher, o simbólico 8 de março remete aos desafios e perspectivas da luta das mulheres por direitos e por justiça na ordem contemporânea.
No mundo ocidental, a construção dos direitos humanos das mulheres pode ser compreendida a partir de um marco divisório: pré e pós a década de 70. É justamente nas últimas quatro décadas que se concentram os maiores avanços da emancipação feminina. Jamais houve tantas conquistas civilizatórias em um lapso temporal historicamente tão curto.
A reportagem é de Flávia Piovesan, publicada pelo jornal O Globo, 07-03-2014.
Basta atentar que, até 1962, no Brasil, as mulheres casadas eram consideradas “relativamente incapazes” para os atos da vida civil. O Código Civil de 1916 (vigente até 2002) consagrava uma ótica sexista e patriarcal, que conferia ao homem a chefia da sociedade conjugal. Por sua vez, o Código Penal de 1940 contemplava diversos crimes que tinham como vítima a chamada “mulher honesta”.
Ao incorporar 90% das reivindicações do movimento de mulheres à época nos trabalhos constituintes, a Constituição de 1988 consolida um novo paradigma: igualitário, democrático e não sexista. Afirma a igualdade entre homens e mulheres em direitos e obrigações, enfatizando a igualdade entre os gêneros na esfera familiar. À luz do princípio da dignidade humana, prevê ser o planejamento familiar de livre decisão do casal, vedada qualquer coerção estatal. Estabelece o dever do Estado de coibir a violência no âmbito das relações familiares, dentre tantos outros avanços.
Passados 25 anos da promulgação da Constituição, importantes desafios merecem ser enfrentados para assegurar o pleno exercício dos direitos humanos das mulheres no Brasil.
De acordo com o relatório “The Global Gender Gap — 2013”, lançado pelo World Economic Forum, o Brasil situa-se no 62º lugar no ranking de desigualdade entre homens e mulheres em 136 países, tendo como indicadores o acesso à educação, à saúde, a participação econômica e política. O estudo conclui que nenhum país do mundo alcançou a plena igualdade entre homens e mulheres. Os países nórdicos revelam a menor desigualdade de gênero — despontando a Noruega, a Suécia e a Finlândia nos primeiros lugares do ranking —, enquanto os países árabes realçam os piores indicadores.
Se comparada com outros países latino-americanos, como a Argentina (34º lugar) e a Colômbia (35º lugar), preocupante mostra-se a performance brasileira, explicada, sobretudo, pela reduzida participação política de mulheres. Ainda que, no acesso à educação e à saúde, o Brasil apresente um dos melhores indicadores de nossa região, quanto à participação política atingimos a constrangedora 68ª posição, muito distante da posição argentina (34ª), equatoriana (17ª) ou boliviana (23ª).
Ao longo da História, atribuiu-se às mulheres a esfera privada — os cuidados com o marido, com os filhos e com os afazeres domésticos — enquanto aos homens foi confiada a esfera pública. Nas últimas décadas, no entanto, houve a crescente democratização do domínio público, com a significativa participação de mulheres, ainda remanescendo o desafio de democratizar o domínio privado — o que não só permitiria o maior envolvimento de homens na vivência familiar com um grande ganho aos filhos(as), mas também a maior participação política de mulheres.
No mercado de trabalho, para as mesmas profissões e níveis educacionais, as mulheres brasileiras ganham cerca de 30% a menos do que os homens. Para José Pastore, “além das diferenças de renda, as mulheres enfrentam uma situação desfavorável na divisão das tarefas domésticas. Os maridos brasileiros dedicam, em média, apenas 0,7 hora de seu dia ao trabalho do lar. As mulheres que trabalham fora põem quatro horas diárias”. Ainda, a taxa de desemprego na América Latina gira em torno de 7,2% — contudo, de forma desagregada, está a alcançar 9,1% das mulheres e 5,9% dos homens.
Se hoje há 1 bilhão de analfabetos adultos, dois terços são mulheres. Consequentemente, 70% das pessoas que vivem na pobreza também o são — daí a feminização da pobreza. Garantir o empoderamento de mulheres é condição essencial para avançar no desenvolvimento. Os países com a menor desigualdade de gênero são justamente os mesmos que ostentam o maior índice de desenvolvimento humano.
Afinal, como lembra Amartya Sen, “nada atualmente é tão importante ao desenvolvimento quanto o reconhecimento adequado da participação e da liderança política, econômica e social das mulheres. Esse é um aspecto crucial do desenvolvimento como liberdade”.

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/528948-direitos-das-mulheres-e-desenvolvimento

Escutem o louco

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"O homem que empurrou uma passageira nos trilhos do metrô desnuda o momento perturbador vivido pelo Brasil", escreve Eliane Brum, escritora, repórter e documentarista, em artigo publicado pelo jornal El País, 03-03-2014.
Eis o artigo.
De repente, o taxista aumentou o som da pequena TV acoplada no console do carro. No banco de trás, eu parei de ler e afinei os ouvidos. Era meio-dia da sexta-feira de Carnaval (28/2). O homem que, dias antes, havia empurrado uma passageira nos trilhos do metrô de São Paulo tinha sido preso. A mulher teve o braço amputado. O agressor sofre de esquizofrenia, destacou o apresentador de TV. “Louco”, decodificou de imediato o taxista. Doença triste, disse o apresentador na TV. Ao ser preso, continuou o apresentador, o agressor afirmou que a empurrou porque sentiu raiva. Essa parte o taxista não escutou. Algo lá fora o havia perturbado. Colou a mão na buzina, abriu a janela do carro e xingou o motorista ao lado, que tentava mudar de pista. Perdigotos saltavam da sua boca enquanto ele empunhava o dedo médio com uma mão que deveria estar no volante. Fechou a janela, para não perder a temperatura do ar-condicionado, e voltou a falar comigo. “A polícia tem de tirar os loucos da rua”. A quem ele se refere, pensei eu, confusa, olhando para fora, para dentro. Era ao louco do metrô.
Há algo de trágico nos loucos. E não apenas o que é definido como loucura nessa época histórica. Há uma outra tragédia, que é a de não ser escutado. Sempre que alguém com um diagnóstico de doença mental comete um crime, a patologia é usada para anular as interrogações e esvaziar o discurso de sentido. A pessoa não é mais uma pessoa, com história e circunstâncias, na qual a doença é uma circunstância e uma parte da história, jamais o todo. A pessoa deixa de ser uma pessoa para ser uma doença. Se há um histórico, é o de sua ficha médica, marcada por internações e medicamentos – ou a falta de um e de outro. Esvaziada de sua humanidade, o que diz é automaticamente descartado como sem substância. A doença mental, ao substituir a pessoa, explica também o crime. E, se não há sujeito, não é preciso nem pensar sobre os significados do crime, nem sobre o que diz aquele que o cometeu.
Mas o que essa escolha – a de reduzir uma pessoa a uma patologia e a de anular os sentidos do seu discurso – diz da sociedade na qual foi forjado esse modo de olhar? Se Alessandro de Souza Xavier, 33 anos, o homem que na terça-feira (25/2) empurrou Maria da Conceição Oliveira, 28, no metrô, for escutado, há algo de particularmente perturbador na justificativa que confere ao seu ato. Alessandro diz: “Fizeram um mal pra mim, e eu descontei. Fiz porque estava nervoso com o pessoal do mundo.”
O que há de particularmente perturbador nessa fala é que, quando escutada, ela desnuda o atual momento do Brasil. Vale a pena lembrar que o louco é também aquele que diz explicitamente do seu mundo. Sem mediações, ao dizê-lo ele pode sacrificar a vida de outros, assim como a sua. Vale a pena lembrar ainda que o louco não expressa apenas a sua loucura. Ele denuncia também a insanidade da sociedade em que vive.
Ao interrogar sobre os sentidos do que Alessandro diz, quando explica por que empurrou Maria, é necessário olhar para os outros crimes que viraram notícia nos últimos dias. Nenhum deles, até agora, relacionado a doenças mentais. Torcedores do São Paulo bateram com barras de ferro em um torcedor do Santos que esperava o ônibus. Bateram nele até matá-lo. Ao deparar-se com blocos de Carnaval interrompendo o trânsito, na Vila Madalena, bairro de classe média de São Paulo, um homem acelerou o carro e feriu dez pessoas. Quem estava perto o arrancou do veículo e passou a agredi-lo. Quando ele conseguiu fugir, destruíram o carro. Um casal de lésbicas foi espancado ao sair de um bloco de Carnaval, no Rio. Uma delas teve a roupa arrancada. Apenas uma pessoa na multidão ao redor tentou ajudá-las. Em Franca, no interior de São Paulo, um adolescente correu atrás de um suspeito de assalto e lhe aplicou um golpe chamado de “mata-leão” (estrangulamento). O suspeito, de 22 anos, teve um infarto após ser imobilizado e morreu no hospital. Um morador de rua foi linchado em Sorocaba (SP) por ter pegado um xampu de um supermercado. Teve afundamento do crânio. No Rio, mais um adolescente foi amarrado e agredido depois de furtar um celular. Linchamentos eclodiram em todo o país depois do caso do garoto acorrentado com uma trava de bicicleta no Flamengo.
Nas semanas anteriores, dois manifestantes acenderam um rojão num protesto no Rio, matando um cinegrafista. Na Baixada Fluminense, um homem executou um suspeito de assalto com três tiros, em plena rua, durante o dia, assistido por vários. Mais de 40 ônibus foram incendiados em São Paulo em 2014.
O discurso do louco é encarado como uma afirmação (e confirmação) da sua loucura, o que é outra forma de não escutá-lo. No caso de Alessandro, uma das provas da loucura do louco teria sido ele dizer que jogou Maria nos trilhos do metrô por raiva e também por vingança. Explícito assim. Outra prova da loucura do louco revelou-se ao afirmar que não a conhecia, que a escolheu de forma aleatória. “Desconexo” – foi o adjetivo usado para definir o discurso de Alessandro. Sua vítima não era torcedora do Santos, não era lésbica, não tinha furtado um celular ou um xampu, as desrazões interpretadas como razões. Por que, então? O louco confessou: Maria não era Maria, já que não a conhecia nem sabia o seu nome, mas o “pessoal do mundo”. A lucidez do louco talvez seja a de não vestir como razão a nudez do seu ódio – ou a nudez do seu medo. Por isso também é louco.
Diante da violência que irrompe no Brasil em todos os espaços, talvez seja a hora de escutar o louco. Talvez o fato de ele atacar no metrô não seja um detalhe descartável, uma coincidência destituída de significado. No mesmo dia em que Alessandro foi preso, morreu no hospital Nivanilde de Silva Souza, aos 38 anos. No mesmo dia em que, na Estação da Sé, Alessandro empurrou Maria, na Estação da Luz um trem atingiu a cabeça de Nivanilde. Ela tinha dito a um estagiário da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) que estava grávida, o que lhe assegurava o direito a entrar no vagão especial. O estagiário disse a ela que teria de apresentar um documento comprovando a gestação. Os dois teriam se empurrado, seguranças deram voz de prisão à Nivanilde. Na confusão, ela teria caído na plataforma. O trem bateu na sua cabeça.
No início de fevereiro, a linha-3 vermelha do metrô parou por cinco horas depois da falha em uma porta na estação da Sé, a mesma em que Alessandro empurrou Maria. No verão paulistano mais quente desde 1943, o ar-condicionado foi desligado. Pessoas vagavam pelos túneis, algumas desmaiaram, grávidas e velhos esperaram dentro de vagões abafados por horas. Pelo menos 19 dos 40 trens que circulavam na linha foram depredados.
Os protestos de junho de 2013 começaram por causa das tarifas do transporte público, em São Paulo os 20 centavos de aumento da passagem. Naquele momento, milhares romperam o imobilismo, no concreto e no simbólico, e passaram a andar por cidades em que não se andava, vidas consumidas em ônibus e metrôs superlotados. O aumento de 20 centavos foi cancelado, mas o péssimo transporte público continuou mastigando o tempo, desumanizando gente. Basta parar para esperar o trem nos horários de pico para ser empurrado, xingado, odiado. O outro, qualquer outro, tornou-se nosso inimigo e nosso competidor por um lugar no trem que nos engole e nos cospe em seu vaivém automático. Somos passageiros que não passam, e a tensão dessa impossibilidade cotidiana pode ser apalpada. A violência é gestada como uma promessa para o segundo seguinte.
Então o louco vai lá e empurra a mulher sobre os trilhos. Rompe o imobilismo e empurra aquela que espera. Porque é louco. Caso isolado, nenhuma conexão com nada, desconexo é o seu discurso, fora da história é o seu gesto, a insanidade é só dele. Basta eliminá-lo, tirá-lo de circulação, para que a sociedade brasileira volte a ser sã. E o metrô de São Paulo um espaço de convivência agradável e pacífico, marcado pela cordialidade.
Talvez estejamos todos não loucos, mas no lugar do louco. Já não nos subjetivamos, tudo é literal. Nos mínimos atos do cotidiano nos falta a palavra que pode mediar a ação, interromper o gesto de violência antes que se complete. Mas talvez estejamos no lugar do louco especialmente porque nem escutamos, nem somos escutados. E quem não é escutado vai perdendo a capacidade de dizer. Só resta então a violência.
Os protestos iniciados em junho pelos 20 centavos e agora centrados na Copa do Mundo são um dizer. Responder a eles com repressão – seja da polícia no espaço público, seja em projetos de lei que transformam manifestantes em terroristas, seja anunciando que o Exército vai para as ruas em tempos de democracia – é uma forma brutal de não escutar aqueles que ainda se preocupam em dizer. É talvez a maior violência de todas.
É preciso ser muito surdo para acreditar que prender todos, “deter para averiguação”, criminalizar manifestantes é suficiente para voltarmos a ser o Brasil cordial e contente que nunca existiu, 200 milhões em ação torcendo pela seleção canarinha. Que o dizer de quem deseja um Brasil diferente seja hoje expressado no campo simbólico do futebol é mais uma razão para escutá-lo, ao mostrar que estamos diante de novas construções do imaginário.
Escutem o louco. Para não colocar aqueles que protestam no lugar do louco, no lugar daquele que não é escutado porque não teria nada a dizer. E depois surpreenderem-se com a resposta violenta, convencendo-se de que não têm nada a ver com isso.

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/528855-escutem-o-%20louco

A cem dias do início, Copa perde apoio entre brasileiros

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  Apesar de procura por ingressos ser recorde, insatisfação com investimentos públicos bilionários em estádios corrói aprovação ao Mundial. Em 2008, quase 80% da população era a favor do torneio. Hoje, metade é contra.

A reportagem é de Marina Estarque e publicada pela agência de notícias Deutsche Welle, 04-03-2014.
A menos de cem dias do início da Copa, muitas obras – inclusive estádios – seguem inacabadas; a maioria dos brasileiros tem certeza de que os protestos vão continuar, sob o risco de ficarem ainda mais violentos; o índice de aprovação ao torneio é o mais baixo desde 2008; e metade dos brasileiros não defenderia uma nova candidatura do país a sede do Mundial.
Apesar de tudo isso, a procura por ingressos mostra que muitos brasileiros estão animados com o Mundial. O Brasil tem a maior quantidade de ingressos atribuídos, cerca de 900 mil num total de 10 milhões de pedidos, o que é recorde, segundo a Fifa.
"Gosto muito de futebol, não tem como não se empolgar", afirma o paulista Fabricyo de Sousa, de 25 anos. Gerente de mídias sociais, ele criou uma página de humor no Facebook, chamada "Vai ter Copa Sim", com mais de 7 mil seguidores.
Ainda que muitas das publicações não sejam relacionadas ao Mundial, Fabricyo é firme no apoio ao evento. "Ser contra quando já está na cara do gol não dá. Agora que está feito, vamos curtir." Mas esse apoio não é sem restrições. Ele é um dos muitos que preferiam ver o dinheiro público investido em serviços como transporte, saúde e educação.
Segundo o Ministério do Esporte, até o momento foram gastos R$ 25,6 bilhões com a Copa, dos quais apenas R$ 3,7 bilhões são recursos privados.
Rejeição
Pelos mesmos motivos de Fabricyo, o mineiro Luiz Terenzi, de 47 anos, sempre foi contra o Mundial no Brasil. E ele não está sozinho.
Segundo um estudo da MDA Pesquisa e da Confederação Nacional do Transporte (CNT), 50,7% dos brasileiros seriam contra a candidatura do Brasil como sede da Copa do Mundo caso a escolha fosse hoje. Dos que veem o torneio com bons olhos, apenas 26,1% seriam totalmente a favor.
Ainda assim, o gosto pelo esporte motiva Luiz a participar do evento. Ele comprou ingressos para ver cinco partidas em Belo Horizonte com a mulher e os dois filhos.
"Estou animado com a oportunidade de ver os jogos", diz, ressaltando que sua animação se limita às partidas e "não ao fato de a Copa ser aqui". Como em todo Mundial, Luiz vai reunir amigos e familiares para acompanhar as partidas também em casa. E a torcida? "Não me motiva a seleção brasileira, ali há mais interesse político e empresarial que futebolístico."
A opinião desfavorável de Luiz sobre a Copa é cada vez mais comum entre brasileiros. Em 2008, um ano após o anúncio de que o país organizaria o Mundial, 79% dos brasileiros eram a favor da competição, segundo pesquisa do Datafolha.
Em junho de 2013, quando o Brasil foi tomado por uma onda de protestos, desencadeados pelo aumento das tarifas do transporte público, a aprovação caiu para 65%. Em fevereiro deste ano, atingiu seu nível mais baixo, 52%.
A rejeição também aumentou. A taxa dos brasileiros que são contrários à Copa do Mundo cresceu e passou de 10%, em 2008, para atuais 38%. Entre eles está Felipe Alencar, de 21 anos, que participou de vários protestos contra a Copa. O estudante de pedagogia da Unifesp diz que a precariedade dos serviços públicos afeta sua vida diariamente.
Morador da periferia de São Paulo, Felipe ressalta que ele não é contra o futebol, apesar de não ser fã do esporte. "Os trabalhadores não vão poder participar, porque os ingressos são muito caros. Essa Copa não beneficia o povo. É uma contradição investir dinheiro público nisso enquanto não temos direitos básicos", argumenta.
Obras e violações
A forma como os governos vêm gastando os recursos públicos com a organização do Mundial é fonte de insatisfação para grande parte dos brasileiros.
Segundo a pesquisa da MDA e do CNT, 75,8% dos brasileiros consideram que os investimentos no torneio foram desnecessários. Em relação aos estádios, 80,2% defendem que o dinheiro deveria ter sido destinado a "áreas mais importantes". A três meses do Mundial, cinco estádios ainda estão em reforma. As obras deveriam ter terminado em dezembro do ano passado.
O término de obras de pavimentação e urbanização de áreas do entorno do estádio Beira-Rio, em Porto Alegre, por exemplo, ainda está em fase de licitação. Curitiba, Manaus, São Paulo e Cuiabá também correm contra o tempo para cumprir os prazos da Fifa.
Em relação às obras de infraestrutura, muitas estão atrasadas e outras ficaram para depois do torneio. É o caso do Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão), no Rio de Janeiro, cujas obras serão, em parte, finalizadas após o evento.
A situação do Aeroporto Internacional Pinto Martins, em Fortaleza, é ainda pior. O local terá um terminal provisório, que ficou conhecido como "puxadinho", durante a competição.
Há ainda estruturas que foram inauguradas e já apresentam falhas que terão de ser reformadas, como ocorre em Cuiabá. Segundo o Ministério do Esporte, o andamento das obras está "dentro do previsto".
A Copa como justificativa
Para a Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (rede de organizações e movimentos sociais), o não cumprimento do cronograma é a menor das preocupações. Para um dos membros do Comitê do Rio, Orlando dos Santos Júnior, o megaevento serve de justificativa para realizar obras que não beneficiam a população.
"A questão dos prazos é secundária em relação à própria natureza das intervenções. Eu não tenho dúvida de que estádio de Manaus vai estar concluído para a Copa. Mas é do nosso interesse ter um estádio lá? Ou ele corre o risco de virar um elefante branco? A quem interessa essa obra?", questiona Orlando, também coordenador do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ.
Ele ressalta que a Copa serve para legitimar a aceleração desses empreendimentos. "Isso permitiu desregulamentar processos licitatórios e dispensar audiências publicas, por exemplo. Ainda que muitas destas obras de mobilidade, por exemplo, pouco impactem a organização do Mundial."
O membro da articulação nacional Renato Cosantino alerta ainda para as violações dos direitos humanos, feitas em nome dos megaeventos: "Parece que é um vale-tudo. Vale violar o direito a moradia e vale remover mais de cem mil pessoas apenas no Rio de Janeiro" – a cidade também vai sediar as Olimpíadas em 2016.
Segundo Cosantino, muitas destas pessoas ainda não receberam reparação, anos após serem desalojadas. "A competição também impede trabalhadores informais de seguirem com as suas atividades, violando o direito ao trabalho. Há crimes ambientais, falta de transparência e até violação do direito de manifestação", diz.
Pontos positivos
Mesmo com todas as críticas, há quem defenda a Copa incondicionalmente. Aidê de Simone, de 50 anos, será voluntária do evento em São Paulo. Ela já comprou ingressos para assistir a dois jogos com o marido e os filhos.
"O clima nesses eventos é muito alegre, e você se sente parte de algo maior", diz. A professora de educação física também foi voluntária na Copa das Confederações e assegura que vai torcer para o Brasil.
Para Aidê, a Copa é "um grande aprendizado e traz muitas oportunidades de trabalho". Ela considera que está mais preparada profissionalmente após participar como voluntária em megaeventos.
O Ministério do Esporte aponta a qualificação de trabalhadores como um dos legados da Copa. "No Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) Copa, mais de 90 mil pessoas estão sendo capacitadas para atuar no Mundial. Sem contar as iniciativas individuais e de empresas privadas, como os cursos de línguas que hotéis estão oferecendo a seus trabalhadores", afirma, em nota, o Ministério.
O biólogo Rodrigo Labello Barbosa, de 30 anos, também será voluntário. Ele se diz "muito animado" com as confraternizações. "Haverá uma grande circulação de turistas e isso promove uma troca cultural intensa. As pessoas estão mais abertas para o diferente."
Segundo o Ministério do Esporte, a previsão é de que 600 mil estrangeiros visitem o país durante a Copa do Mundo e mais 3 milhões de turistas brasileiros circulem pelo território nacional. A Embratur estima que os estrangeiros gastem R$ 6,85 bilhões e os brasileiros, R$ 18,35 bilhões ao longo do torneio.
Para Rodrigo, a Copa também representa ganhos econômicos e em infraestrutura. De acordo com um estudo da Ernst & Young e da Fundação Getulio Vargas (FGV), a competição injetaria, adicionalmente, R$ 112,79 bilhões na economia brasileira entre 2010 e 2014, sem contar com os investimentos públicos.
No total, o país movimentaria R$ 142,39 bilhões, gerando 3,63 milhões de empregos por ano e R$ 63,48 bilhões de renda para a população.
Ídolos do futebol
As opiniões sobre a Copa também colocaram ídolos do futebol em lados opostos. Um dos maiores críticos ao Mundial, o deputado federal e ex-jogador da seleção Romário (PSB-RJ), chamou o torneio de "o maior roubo da história do Brasil".
Em junho de 2013, em meio aos protestos que varriam o país, Romário publicou um vídeo na internet apoiando as manifestações e fazendo duras críticas à Fifa e aos gastos governamentais com o Mundial: "O verdadeiro presidente do país hoje se chama Fifa. Ela chega aqui e monta um Estado dentro do nosso Estado", declarou.
Pelé: críticas a manifestações
De outro lado, o rei do futebol e embaixador honorário da Copa, Pelé, partiu em defesa do evento. Junto com ele, o ex-jogador da seleção e membro do Comitê Organizador Local (COL), Ronaldo, também fez declarações em apoio ao Mundial, com direito a troca de farpas com Romário.
Em 2011, Ronaldo afirmou que "não se faz Copa com hospital". Em 2013, o vídeo com a declaração polêmica voltou à tona com os protestos, e o artilheiro disse ter se arrependido. Ele garantiu ser a favor das manifestações, desde que pacíficas.
No mesmo ano, Romário chamou Ronaldo de "ignorante" por apoiar o Mundial. Ao que o membro do COL respondeu: "Tem gente se aproveitando da situação." Na época, durante a Copa das Confederações, Pelé fez um apelo aos brasileiros: "Vamos esquecer toda essa confusão que está acontecendo no Brasil e vamos pensar que a seleção brasileira é o nosso país, é o nosso sangue."
No início de 2014, o ídolo voltou a pedir que os brasileiros não protestassem. Segundo ele, o povo estava "estragando a festa". "Espero que a gente tenha essa consciência: deixar passar a Copa do Mundo. Aí vamos reivindicar o que os políticos estão roubando ou desviando. Isso é outra coisa. O futebol só traz divisas e só traz benefícios para o Brasil", disse.
Protestos
Aidê, que também é a favor do Mundial, concorda com Pelé. Ela considera injusto culpar a Copa pelos problemas do país. "Se não houvesse o Mundial, esse dinheiro não iria para a educação. Infelizmente seria roubado da mesma forma, porque o Brasil é corrupto", defende.
Fabricyo também não quer protestos durante a competição. Para ele, serão contraproducentes. "Prometeram que o Mundial traria melhorias para população e não trouxe. Nunca vou ser contra manifestação, mas isso deveria ter sido feito bem antes do evento."
Junto com Fabricyo e Aidê, 63% dos brasileiros são contra a realização de protestos durante o torneio, aponta o Datafolha. Segundo a pesquisa da MDA e CNT, apenas 15,2% declaram que participariam dessas manifestações durante a competição.
Rodrigo, apesar do discurso positivo em relação à Copa, não é contra as manifestações. Segundo ele, a opinião de quem é contra o Mundial deve ser respeitada. "Vivemos em uma democracia. Os protestos pacíficos, inclusive durante o evento, são legítimos. Essa postura precisa ser exercitada pelos cidadãos de maneira contínua."
Para Luiz, que considera que o país estaria melhor sem o megaevento, esses protestos são importantes. "Contanto que sejam pacíficos, eu concordo. É a hora de tentar forçar os políticos a trabalhar pelo povo."

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/noticias/528872-a-cem-dias-do-inicio-copa-perde-apoio-entre-brasileiros